A sensação de não ser suficiente: de onde vem essa voz tão crítica dentro de você?

Você tem carregado dentro de si uma voz interna severa, sempre pronta para apontar falhas e insuficiências? Essa autocrítica frequente e excessiva pode corroer a autoestima, alimentar o medo de errar e gerar bloqueios que impedem qualquer pessoa de se desenvolver plenamente. Para a Psicanálise, essa voz não surge do nada, mas tem raízes profundas na história psíquica de cada ser. Freud já indicava a instância crítica e punitiva como uma parte da nossa psique. Uma parte que está diretamente ligada às primeiras relações que tivemos com figuras de autoridade, geralmente pais ou cuidadores, que estabeleceram padrões de certo e errado. E é aí que podem surgir os primeiros problemas.

A sensação de não ser suficiente frequentemente se desenvolve na infância, quando a aceitação e o afeto parecem condicionados ao desempenho ou à obediência. Winnicott trouxe o conceito de “self verdadeiro” e “self falso” para explicar como, desde cedo, muitas pessoas aprendem a moldar sua identidade para atender às expectativas externas, reprimindo aspectos autênticos de si. Claro que isto tem seu lado natural e faz parte do processo de amadurecimento. Porém, se a necessidade de agradar o outro se torna mais forte do que a liberdade de existir espontaneamente, a voz crítica interna se sobrepõe, julgando cada ação e mantendo a pessoa sob constante vigilância.

O sentimento de inferioridade cresce assim. Ele pode ser também um motor de desenvolvimento ou um entrave, dependendo de como a pessoa lida com ele. Quando essa sensação se transforma em uma crença rígida de incapacidade, fraqueza e paralisia, surgem os padrões de autossabotagem: procrastinação, perfeccionismo paralisante, medo da exposição e uma busca sem fim por validação externa. Em vez de impulsionar o crescimento, a voz crítica interna se torna um freio fortíssimo, minando a criatividade e a autoconfiança e impedindo que a pessoa arrisque novas possibilidades.

A Ontoanálise investiga essas estruturas psíquicas como construções que podem ser desconstruídas e reformadas. A crítica interna, embora pareça uma entidade independente, é resultado de processos históricos e emocionais que podem ser ressignificados. Wilhelm Reich demonstrou décadas atrás que emoções reprimidas se manifestam não apenas na mente, mas também no corpo, criando tensões musculares crônicas que sustentam padrões emocionais rígidos. O alívio dessa autocrítica, portanto, não se dá apenas por uma mudança de pensamento, mas pela liberação das emoções aprisionadas em pequenas atitudes de enfrentamento e pela reconstrução de uma relação mais livre consigo mesmo.

Silenciar a voz opressora não significa ignorar a necessidade de reflexão ou aprimoramento emocional, mas aprender a distinguir uma autocrítica saudável de um discurso destrutivo. Para isso, é essencial desenvolver uma escuta interna mais compassiva. Na verdade, a autoconfiança que é construída na relação terapêutica, permite à pessoa o experimentar de um ambiente seguro para se expressar sem medo de julgamento. Aos poucos, o processo de desfazer tencionamentos permite a substituição da rigidez da autocrítica por uma autoavaliação mais realista, equilibrada e generosa.

Na prática, pode ajudar bastante começar a observar os padrões dessa voz crítica. Já é um passo transformador. Perguntar-se “essa exigência é realmente minha ou algo que internalizei?” Abra espaço para novas perspectivas! Além disso, fazer exercícios que estimulam a expressão autêntica, como a escrita reflexiva, a dança ou o contato com formas criativas de comunicação, por exemplo, ajuda a enfraquecer o domínio dessa instância interna punitiva. O objetivo não é eliminar completamente a crítica, já que ela compõe nossa natureza psíquica, mas transformá-la em uma aliada no crescimento pessoal, percebe?

É sobre compreender que essa voz não define quem você é… Na verdade, ela reflete apenas construções psíquicas passadas. Este pode ser um bom começo para começar a se libertar do peso de nunca se sentir suficiente. O caminho para essa transformação não está em buscar perfeição ou aprovação externa, mas em reconhecer o próprio valor para além das expectativas impostas. A verdadeira segurança emocional nasce quando se aprende a ser, em vez de apenas corresponder.

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