O que seu filme favorito diz sobre você?

Muitas vezes, um filme que nos marca profundamente não é apenas entretenimento, mas um espelho de algo que sentimos e não conseguimos nomear. Algumas histórias nos tocam de maneira inexplicável, despertando emoções intensas, trazendo conforto ou até inquietação. Mas por que isso acontece? A Psicanálise, desde Freud, sugere que a arte, incluindo o cinema, não apenas expressa conteúdos inconscientes de seus criadores, mas também ressoa no inconsciente coletivo, atingindo aspectos ocultos da experiência humana.

Pense em um filme que você já assistiu diversas vezes. Talvez um drama que o emociona profundamente ou um suspense psicológico que o fascina. De acordo com a Psicanálise, essa atração não é casual. A arte pode funcionar como um “espaço potencial”, uma ponte entre o mundo interno e externo, permitindo ao ser elaborar experiências psíquicas de forma segura. Assim, aquele filme que o faz chorar pode estar tocando em uma vivência reprimida, enquanto o herói que sempre vence pode representar um desejo inconsciente de superação.

Os símbolos no cinema, nesse sentido, são formas narrativas que traduzem emoções e conflitos internos. O “anti-herói”, muitas vezes em luta contra suas próprias sombras, um bom filme pode nos conectar até com aspectos reprimidos de nossa identidade. Essa identificação, se bem construída produz descargas emocionais que aliviam pressões internas.

O filme Coringa (2019), por exemplo, explora o impacto da exclusão social e da dor psíquica de forma visceral. A narrativa da construção da vilania de Coringa sinaliza algo sobre as angústias mais abrangentes da própria sociedade. O medo do desconhecido, o avanço tecnológico e o apagamento da subjetividade podem nos levar a refletir sobre a solidão contemporânea e na dificuldade de conexão humana. Isso significa que, além do nível individual, os filmes também alcançam sobre os sintomas psíquicos da vida em coletividade.

Filmes nos irritam, filmes nos incomodam e até nisto podem ser tão reveladores quanto aqueles que amamos. Melanie Klein, foi a psicanalista que falou da projeção e da identificação como mecanismos fundamentais da psique. Isso explica projetarmos nossas emoções e traços internos nos personagens, e quando algo nos desagrada profundamente em uma história, pode ser porque estamos tocando em aspectos de nós mesmos que ainda não conseguimos aceitar ou elaborar em nós.

Assistir a filmes pode ser, então, mais do que entretenimento simplesmente: pode ser parte de um processo terapêutico, facilitar o acesso ao inconsciente e a expressão de pacientes mais jovens ou marcados por traumas que prejudicaram a verbalização. Se uma história o emociona de forma inexplicável, pode valer a pena refletir sobre o porquê. Como Ferenczi defendia em seus trabalhos de Psicanálise, a expressão simbólica é uma via potente de ressignificação emocional. Explorar essas mensagens ocultas no cinema pode ser uma oportunidade para compreender a si mesmo, reconhecer desejos e enfrentar medos.

E você? Qual filme ou personagem marcou sua vida e por quê? Já parou para pensar no que ele revela sobre você?

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